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Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

As Bacantes

A questão central deste drama está entre duas teses principais, por um lado, a dignidade do deus Dioniso e por outro, a não crença nesta divindade. Em seguida o culto estranho que o envolve com a presença de mulheres também estranhas da Lídia longínqua, lideradas por este pretenso deus. As mulheres estranhas também apresentavam actos muito estranhos, como ir para a montanha, domar feras e comer carne crua. O novo culto é contrastante com a normalidade do culto grego. E por se tratar de culto, não se trata de uma mera teoria, trata-se da existência e relação nesta existência, com novos atributos, a partida incómodos e que trazem consequências. É imperativo saber se a nova força vem ou não de um deus, pois certos elementos do culto são repugnantes aos olhos de um grego. Urge saber se se deve submeter a esta divindade ou não. As personagens tomam posições, e Penteu[1] resiste e não argumenta, enquanto Cadmo e Tirésias aderem, provocando espanto. Tiresias apela por uma argumentação oposta à atitude de Penteu.
O coro é formado por Bacantes convertidas. As mulheres da família de Penteu são chamadas pelo deus e estas entregam-se a um chamamento sobrenatural e partem para as montanhas para dedicarem-se a Dioniso e às suas actividades.
Penteu sendo o único resistente é arrastado por uma progressiva epifania. Embora o seu desejo seja o de manter a soberania. Manda os soldados atrás das Bacantes quando Dioniso intromete-se com ironia e di-lo para não lutar contra um deus. Esta ironia dionisíaca do próprio deus acompanha todo o drama. A ironia surge como um traço ainda não evidente do deus em outras peças. O deus convence o governante a fazer sacrifícios, pois ainda é possível resolver tudo a bem. Dioniso oferece-se para trazer as mulheres sem usar a força. Penteu começa a desconfiar e suspeita de uma armadilha. Mas Dioniso domina a situação perguntando se Penteu gostaria de ver também as Bacantes sentadas ao pé umas das outras. A ironia e zombaria associadas a um poder de articulação para incitar no outro a curiosidade que será fatal. O rei diz que sim e que daria ouro por isto. E Dioniso começa a preparar Penteu de modo cómico: veste-o com uma túnica de mulher, uma longa cabeleira, uma fita, um Tirso e uma pele mosqueada de veado. Penteu hesita e Dioniso o convence a ir disfarçado de mulher. Penteu entra no palácio e Dioniso regozija-se com o coro, pois o rei caíra na rede e fará Penteu pagar a sua insolência com a morte. E antes quer troçar do rei levando-o pela cidade vestido de mulher. Dioniso quer ser reconhecido enquanto deus terrível e também enquanto o mais doce.
[1] Penteu é o actual rei de Tebas, filho de uma irmã de Sémele, portanto primo do deus Dioniso. Dioniso vem a Tebas para revelar-se enquanto deus e tem como seu maior opositor o próprio primo, que enquanto político tem como preocupação fundamental a manutenção da ordem na cidade, duvidando do poder sobrenatural que se anuncia em manifestações estranhas. Dioniso não poupará o sofrimento dos opositores à sua condição de divindade e em frente ao palácio real de Tebas, ao lado do túmulo da mãe, aparece ao espectador vestido de chefe das Bacantes. Diz ser filho de Zeus e relata o trágico amor de Sémele, ao tempo que fala da sua vida errante em terras distantes, onde cultivou a dança e instituiu os seus mistérios. Dioniso tem uma relação problemática com o Olimpo. Se por um lado ele é filho do grande Zeus, por outro é um vagabundo. A Grécia será iniciada nos seus mistérios, o uso da pele de veado, do Tirso, um dardo coberto de hera, seus acessórios.

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