Filosofia,literatura e outros...

Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

MACHADO DE ASSIS

O Delírio

Brás Cubas delicia-se com a sua possibilidade de falar sobre o seu próprio delírio, uma experiência mística, talvez xamânica. Primeiro vê-se a si próprio transformado num barbeiro chinês, depois na Suma Teológica de Tomás de Aquino. Seguidamente, empreende uma viagem ao fim dos séculos no lombo de um hipopótamo que por último se transforma no seu gato que brinca com uma bola de papel ao pé da porta. Os gatos trazem os mistérios para dentro de casa e Brás tradu-los nos enigmas, ao longo da sua vida.
No final dos tempos é Pandora quem recebe Brás Cubas e o assusta com a declaração de ser sua Mãe e Inimiga. Brás assustado responde-lhe dizendo que ela é absurda, pois uma mãe não é inimiga, que ela é uma fábula. Pandora o suspende pelos cabelos e o delírio tem o seu cume, pois Brás assiste ao desfile dos tempos... Pandora diz não mais precisar dele e que o minuto que vem é mais importante que o minuto que passa e o minuto que vem traz a morte...
Brás Cubas acaba por morrer e torna-se um escritor, e, já não submetido às exigências espacio temporais da existência, alcança uma escrita graciosa, irónica e cheia de humor, com uma liberdade superior. Enquanto vivo seu espírito parecia uma peteca, um jogo divertido, simples, em que a cada pancada o objecto alcança alturas, na trajectória do impulso. Era um melancólico e sua falta de ímpeto o encaminhava à frustração. À cada impacto com a realidade, com as opiniões, o seu espírito leve sofria alterações. Faltava-lhe envergadura de carácter, virtudes sólidas, e a capacidade de amar profundamente. Esta lacuna facultava a leveza da peteca. Santo Agostinho disse : o meu amor é o meu peso, e não havendo peso, submetia-se à peteca...

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