Filosofia,literatura e outros...

Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

"Ainda tenho de aprender a abordar-te mais discretamente: o meu coração ainda corre para ti com demasiado ímpeto" in Ecce Homo, Coisas de Ler Edições.

Identifico-me com Nietzsche. Li este fim de semana "Ecce Homo". Li o Zaratustra na minha adolescência e pouco recordo." O Nascimento da Tragédia" li uma quantidade de vezes, talvez nove, e ainda lerei outras nove antes de entregar o meu Trabalho Final do curso de Filosofia, pois a minha orientadora espera muito de mim, a minha querida professora Maria Filomena Molder. Nietzsche se intitula um discípulo de Dioniso e eu estou convencida que sou uma bacante. De facto somos muito amigos, ele um sátiro e eu uma ménade... Onde encontrei a força de sair do Brasil, andar pela Europa e parar em Lisboa para filosofar? Quando se vem por motivos económicos , os objectivos materiais são imediatos. Estudar sem ajudas... a força vem de outro lado...
Uma pergunta fundamental: quanta verdade pode um espírito suportar? quanta verdade pode um espírito ousar? O herói não se sustenta em vida...
Nietzsche diz que a resposta a estas duas perguntas tornou-se a verdadeira medida do valor. O erro não sendo cegueira, é covardia...e cada passo em direcção ao conhecimento configura-se como um acto de coragem. O saber é poder amar os inimigos e odiar os amigos...
O Auto-Curado de Nietzsche: Aquele que adivinha remédios contra o que causa danos, e o que é-lhe nocivo transforma-se em benéfico e aquilo que não o mata, pelo contrário, o fortalece. De tudo que experimenta recolhe a suma. O Auto- Curado é um princípio selectivo, está sempre consigo próprio, fiel a si próprio em todas as situações. Reage lentamente, com circunspecção ,e um orgulho cultivado. A moral instituída fez o homem adoecer. Há que recuar no tempo para encontrar a pureza dos instintos. As naturezas mais elevadas encontram suas raízes em tempos remotos...
Aponta para uma higiene: nela o despeito, a inveja... é uma reacção desvantajosa para quem se sente exausto. Agarrar só as causas vitoriosas, em que se encontre e possa permanecer solitário, e auscultar um estado geral de calamidade... Atacar o que não contenha divergências pessoais. Viver num processo de auto-superação, necessidade de solidão, necessidade de pureza...Ter antenas para as imundícies escondidas nas naturezas, disfarçadas pela educação. E não se deve dar crédito a qualquer pensamento que não tenha nascido ao ar livre, em movimento livre, onde os músculos também estejam em festa. Todos os males nascem dos intestinos. Nos homens bem dotados a ironia, a malícia e o refinamento se destacam como parte da felicidade, numa atmosfera seca. Refugia-se nos mesmos livros, os adequados ao próprio, pois uma sala de leitura torna-se insuportável. Ser poeta é criar a partir da sua própria realidade. Exigir da música que seja serena e profunda. A primeira astúcia é não deixar que se aproxime de nós aquilo que não queremos. Auto-preservação, uma necessidade, proferindo o "não" poucas vezes. Afastar-se das situações repetidas de" não".Ter Gosto. Subtrair-se a relacionamentos que nos conduz a perda de liberdade, ao culto da reacção.
Obrigada Nietzsche! Ainda bem que você existe na minha vida!

2 comentários:

Anónimo disse...

«Quanta verdade pode um espírito suportar?» É esta uma das primeiras questões nietzschianas, sem dúvida. Pois, na verdade, como desde logo se adivinha n’«O Nascimento da Tragédia», há pelo menos dois tipos de «Verdade». A de que se faz uso para esconder o medo, para se ordenar o caos que há, para se permanecer seguro – seguro? – na prisão lançada pelas grades conceptuais da Razão. E a outra, enigmática, de que Dioniso seria o representante. Não sei porém se é a «pureza dos instintos», vinda de «tempos remotos». Não sei se é pura. Não sei se é «antiga» ou «anterior». Nessa verdade, como sabemos, suspeita Nietzsche ainda uma alegria suprema de que não conhecemos o semblante. Permanece indeterminado.
É o «não-idêntico».
Estamos ainda na situação de aprender a abordá-lo mais discretamente; acercando-nos dele com vagar, moderando o ímpeto, escutando vagarosamente o dealbar do que não sabemos.

Tenho de ler com atenção o «Ecce Homo»…

Gostei do teu texto.

João Pedro Cachopo

Anónimo disse...

Hello Socratiza!!! Agora temos de desenvolver mais a não-piedade pela fraqueza... dar à criança as mandíbulas do leão... Quanto a esse dizer poucas vezes «não»... parece queo nosso bem-amado Anti-Cristo entrou numa das suas maravilosas contradições iluminantes... cheira a alienação... O que foi que ele fez senão constantemente repetir um Grande Não ao seu em redor?... Outro detalhe é a música... serena e profunda o tanas... Viva o Axé!!! Viva a Bahia!!! Viva os tambores da tribo... O que queremos é o suor a escorrer na pele, os músculos retesados... Já acebei de ler... agora devo reler... Depois faço mais umas quantas observações...
BEIJO
N.