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Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

domingo, agosto 12, 2007

GUIGA DE "PÉS VELOZES"
Para Guilherme Reis Falcão

Sem dúvida, Guiga era o menino mais rápido da escola, pois chegava sempre em primeiro lugar nas brincadeiras de correr. Guardava com orgulho os troféus e medalhas de campeão conquistados nos torneios . Títulos conseguidos com empenho e habilidade!

Era muito rápido em tudo ! Só andava a correr e chegava cedo a todos os sítios. Era também o primeiro a acabar os trabalhos da escola. Sabe-se lá a qualidade com que os terminava!

Os fins-de-semana eram passados no campo e adorava saltar ao redor das árvores, ao sabor dos ventos, pois sabia tirar partido das correntes de ar. Guiga competia com as rajadas mais fortes! Também corria com outras crianças à volta do campo de futebol, enquanto se aqueciam para uma partida. Durante o jogo era sempre o primeiro a marcar golos. Era assim o mais importante do clube e, portanto, um atleta muito disputado.



Mas a sorte que costumava estar do seu lado um dia escapou-lhe e Guiga teve de enfrentar a dureza do momento. Durante uma jogada arriscada, confrontou-se com um adversário e magoou um calcanhar. O jogo ainda estava no princípio, mas teve de ser interrompido. Que azar! Logo na primeira eliminatória do torneio!

Guiga que nunca tinha andado devagar na sua vida, foi obrigado a voltar para a casa lentamente, o que foi muito difícil . Andar devagar era demasiado monótono para uma criança com uma energia como a sua. Ele era tão possante que até Homero o teria confundido com Aquiles, o herói grego, pois parecia uma estrela, ao correr pela planície em busca de Heitor, o príncipe troiano.


O caminho, que sempre foi curto para Guiga, agora parecia muito comprido e difícil de percorrer. .. e tão cedo não poderia voltar a jogar. Era necessário saber viver com a nova situação. Por um instante, Guiga ficou pensativo a olhar a Natureza. Começou a sentir a vida exuberante em toda a parte! Desfrutava agora de um prazer diferente, ao mesmo tempo profundo e intenso, e respirava calmamente para encontrar o modo de conviver com a novidade. A surpresa fez-lhe perder a cor, tornando-o quase transparente e difícil de ser visualizado.



O sapo mais colorido olhou para aquele menino quase incolor e começou a coaxar com insistência. Só deixou de fazer barulhos de sapo quando se apercebeu que a falta de cor do Guiga supunha um misto de dor e confusão pelo encontro com tantos bichos. De modo que o sapo colorido, movido por um sentimento súbito de simpatia e solidariedade, ofereceu a Guiga um exemplar do mais belo livro de histórias dos sapos da Amazónia. O sapo colorido tinha justamente acabado de reeditar esta celebridade para que todas as rãs, sapos e pererecas tivessem a rica instrução da verdade da origem dos sapos.



Guiga, agradecido, sem perceber muito bem o que se passava à sua volta, e com dificuldade para caminhar, via que tudo aquilo era muito bonito e importante. Era delicioso desdobrir o mundo, ainda que pudesse encontrar sapos ora enfezados, ora generosos…

Admirava-se com as acrobacias das borboletas, os variados cheiros das flores, os diferentes tamanhos dos grilos e tantas cores de sapos! E agora de calcanhar magoado, um pequeno Aquiles amuado, iria se entregar à leitura para descobrir muito sobre o seu novo amigo sapo ou simplesmente mergulhar nos seus mistérios.


Apercebeu-se de que a beleza tinha várias formas e de que era preciso tempo para apreciá-la. Descobrira o privilégio de saber observar. E isto parecia bem melhor do que ser o mais rápido. Sabia que deveria conhecer tudo isto em pormenor. Talvez conseguisse captar muitas das evoluções mais expressivas dos seres. Queria descobrir as misteriosas transformações de todas as coisas.

Ler e pensar poderiam ser os mais seguros passos para compreender… Que bela prenda e que belo aviso o sapo colorido lhe dera! Pensou que, se queria apreciar a beleza das flores,dos bichos, das pedras…já não poderia andar tão depressa. Cada ser é muito mais do que aquilo que podemos julgar. Decidiu que, daquele momento em diante, só correria quando fosse necessário. Queria, desde já, estar diante da possibilidade de uma nova descoberta.



Dava início a um tempo de recolhimento, de abrir o coração aos outros e repensar o modo de viver a vida. E foi dessa maneira nova de viver que Guiga recuperou a sua cor.

4 comentários:

Anónimo disse...

Admirável essa capacidade de atribuição formal de transparência ao aparentemente insondável! Vislumbram-se colossais teses filosóficas em embaladoras linhas dirigidas às crianças.
Atenção, pais particularmente atentos podem temer algum perigo!:)

m.salles disse...

As crianças se aguentam bem ! São mais fortes e sábias do que podemos suspeitar...

m.salles disse...

Afinal, quem és?

Anónimo disse...

Dinda,
Que surpresa linda...um verdadeira homenagem a mim e a Guiga...amanhã vou mostrar os desenhos e ler para ele!
Ficaram lindas a sfiguras, foi vc quem fez?
Saudades,
Ucha
No reveillon, Itana, Sandra e Fafá vão para Portugal e querem vê-la, inclusive Itana gostaria de convidá-la para ir a Fátima com elas, que vão para agradecer pela saúde de Itana, só te falando com calma sobre isso, te envio um e-mail, ok?