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Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

domingo, agosto 05, 2007

Enamoramento

a fulano ou sicrano, ou melhor: a beltrano

Abraçavam-se quase imobilizados de um desejo concentrado no membro rijo mesmo à beira do sexo dela, imobilidade que potencializava a sexualidade transbordante por uma longa espera. A temporalidade do momento emanava uma cintilação de cura profunda. Uma harmonia se expandia daqueles corpos nus, muito unidos, suados, amados numa entrega de uma paixão alicerçada por um amor que define um verdadeiro encontro. Depois do clímax da entrega dos corpos permaneceram unidos e a harmonia tomava nova densidade saltando para fora do sonho e inundava a escuridão do quarto. Era uma nova força a que recebera e parecia que veio para sempre. Ela sorriu de alegria e tornou a abraçar o seu gato que recebia, deliciado, toda aquela energia benfazeja. Tinha sonhado com ele e a atmosfera que trazia para a realidade era de reconciliação consigo própria permitindo a continuação de um sonho reparador, feliz, sempre abraçada ao seu gato que com ela dorme todas as noites. A atmosfera amorosa acompanhou-a durante alguns dias de modo notório e reparador. As próximas vezes que se viram tinham um namoro tácito, isento de palavras e muito carinho doado em momentos dispensados ao toque da visualização um do outro. Moíam-se debaixo do calor de um sol ardente numa esplanada pouco protegida, mas que lhes permitia uma intimidade demorada para se olharem sempre que quisessem, ainda que sob um pudor de não mostrar ao outro de modo bruto a evidência do interesse. E a ingenuidade do disfarce, que nada esconde, servia-lhes para saborear a presença do outro de forma requintada e ir sentindo as transformações que no íntimo se vai operando quando o amor quer deixar de ser incerto e pede uma morada absoluta, em liberdade. Ela sentia-se no vórtice de um jorro afectivo, e senhora de si olhava-o com um pouco mais de desprendimento, queria colaborar com uma decisão encorajante, para que ele pudesse captar o progresso de uma estabilidade desejada. Nesta atmosfera aconchegante ambos sentiam-se tranquilos e receptivos e já apontava no horizonte emocional de ambos uma proximidade que em breve tomaria novos contornos. Ele já se preparava para partir, não sem dar a ela o tempo de preparação para algo de eficaz entre ambos. Ela acompanhava os movimentos dele e dava-se conta que estavam prestes a se olharem de modo muito verdadeiro, e de facto olharam-se e ele mostrou-se muito sincero, pois nos seus olhos desta vez não mostrava barreiras e chegava-lhe como um convite. Ela atrapalhou-se com tamanho brilho na emoção, que ofuscando-a revelou-a uma timidez que os impediram de seguir um rumo tão desejado e tão merecido.

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