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Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

sábado, julho 28, 2007

O MENINO POBRE E O CÃOZINHO ADIVINHAS




Havia um menino que morava num vale deserto. Ele tinha apenas cinco anos, mas já gostava de saber, de aprender com as pessoas e com a natureza à sua volta. Não tinha memória da verdadeira cor das coisas pois desde que nasceu, a seca já se encontrava instalada, e aquele tom desbotado não era o tom original da vida. Tudo ao seu redor tinha sempre uma cor acastanhada, com poucos vestígios de verde.

Também não tinha televisão e por isso não desejava brinquedos sofisticados, como acontece com aquelas crianças estimuladas pela publicidade. Ele tinha um cão, o seu único e verdadeiro amigo. O cãozinho acompanhava-o em todas as caminhadas e chamava-se Adivinhas, porque adivinhava todos os desejos do menino. O menino precisava de aprender muitas coisas, pois ainda não tinha idade para ir à escola, mas já sabia que quando crescesse, se tornaria um sábio.



Junto com o Adivinhas, gostava de imaginar e de pensar no tempo da sabedoria, pois com frequência brincava com a imaginação e nela chegava a muitos sítios nunca visitados. O cãozinho era muito orgulhoso do seu pequeno dono, de ideias tão grandiosas. O menino andava muito triste por não saber como alcançar os seus intentos. A falta de chuva não permitia que o solo fizesse germinar um caroço de ameixa, que até então guardava na algibeira.



Sempre acompanhado do seu cãozinho, cavava todas as semanas um novo buraco na terra seca, onde colocava o seu caroço de ameixa. Afagava uma grande esperança de ter uma amiga árvore que lhe desse sombra, frutos e muitos conhecimentos.
Não conseguia bons resultados. Ali nada crescia, nada florescia e não havia nuvens que pudesse enviar água de chuva… Adivinhas era um verdadeiro amigo, pois o facto de adivinhar os desejos do menino indicava uma proximidade. E a proximidade entre ambos não era apenas física, era, principalmente, uma proximidade do coração.



Estar perto do coração é o melhor que nos pode acontecer, os seres que se querem bem tornam-se semelhantes, pois, de algum modo, fundem-se como se fossem apenas um. Os desejos do menino inquietavam Adivinhas, pois também este conhecia a realidade da seca. Sempre que fazia xixi assistia à sua evaporação em menos de cinco minutos…O cãozinho até dava piruetas para entreter o menino, mas a proximidade dotou-o de superiores dons.
Num determinado instante o cão ficou imóvel, embora inquieto, e começou a ladrar em direcção ao alto de uma montanha. O menino, então, subiu-a acompanhado do cão. Precisava de pensar. Achou que era bom chorar e pedir aos anjos que pedissem a Deus que o ajudasse na realização dos seus projectos.

Lá no alto da montanha, os sentimentos eram muito grandes dentro do menino. Lá em baixo, tudo parecia muito pequenino, principalmente a sua árvore, que nunca nasceu. O menino chorou uma tarde inteirinha junto do cãozinho, que também chorava muito, porque queria ajudá-lo a chorar.



Todas aquelas lágrimas despertaram a montanha, que passou a jorrar do seu íntimo água pura, de uma fonte que esteve sempre lá, a espera de ser convocada! O menino e o cão ficaram muito admirados com todo aquele acontecimento! Desceram depressa a montanha molhados de seu novo riacho.

Chegando cá abaixo, encontraram a tão desejada árvore, prestes a nascer. E o menino ficou, então, mais feliz do que algum dia pudera imaginar, porque tinha um cãozinho que lhe adivinhava os desejos, uma árvore frondosa com galhos fortes para o baloiço, e, o que era mais surpreendente, um lindo e pequeno rio para mergulhar. É verdade que Advinhas também precisava de uns bons banhos, para livrar-se das pulgas…
E assim, cuidando do seu cão, respeitando e brincando com a sua árvore, o menino aprendia e perguntava ao rio tudo o que considerava importante.



O rio tudo sabia responder-lhe, porque tinha nascido da sua natureza mais profunda.

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