Filosofia,literatura e outros...

Acerca de mim

Jornalismo U.F.Bahia/ Filosofia U.N.Lisboa/ Campeã Brasileira de Vela(Laser)/Nasci no Brasil(Bahia). Morei em Salvador, São Paulo, Cambridge, Ibiza e Lisboa.Autora de"O Caminho do Mar", Ilustração: Calasans Neto, ed.P555, Salvador-Ba,2004. Tenho três gatos:Homero, Bocage e Clarice(Lispector). Signo de Touro, ascendente em Leão, lua em Peixes.Doze e meio por cento de Sangue Índio(BR), a melhor parte de mim.

terça-feira, junho 12, 2007



ANTROPOFAGIA TROPICAL

V


Parada, notara uma sombra que atravessava uma vidraça. Ele a olhava há alguns segundos e ela por acaso descobria seus aposentos literários e espantava-se com a quantidade de reinos desconhecidos no seu percurso quotidiano. Há muitos anos frequentava aquele lugar, ocupando com naturalidade aquele espaço que era já tão seu e não se lembrava de algum dia o ter visto, se ele ali agora enquanto sombra já a conheceria ou não. Não sabia o que pensar sob as restrições que acompanham cada vida em particular, que nada mais é que uma pequena clareira movimentando-se numa escuridão. Ter ali passado muitos dias e durante muitos anos não os fazia velhos amigos. Como se a vida, enquanto reservatório, guardasse sempre e no mesmo lugar surpreendentes novidades, coletes salva-vidas e botes contra o iminente tédio. O amor a que se aspira no desenrolar de uma paixão é uma ponte. Numa das vezes que se encontraram diante de si próprios pela presença do outro, inconscientemente, padeciam de uma sensibilidade já acumulada, treinada na leitura de pequenos gestos, e sob qualquer variação de atitude, uma modificação fisiológica desencadeava uma excitação nova, inesperada, desconcertante, promotora de embaraço. Deu-se uma recolha mútua, parte a parte, enquanto ganhavam tempo para integrar novos dados que a natureza oferece como um bónus aos que devem entregar-se em paixão, no consumo combustível dos corpos, onde a química justifica a sua existência. A confusão ia-se dissipando em momentos de clareza, e a necessidade solidificava-se na consciência do estado actual em que a fruição chamava os elementos do desejo mútuo, que inertes nada sabiam dar início, olhando-se simplesmente, sem poder ainda dissolver a inadequação de uma temporalidade anunciada. Haverá uma causalidade nas impressões que empurra o momento futuro para o presente actual e o manipula, brincando com uma maldade elementar, aquilo mesmo que indefeso pede cuidados para crescer robusto.





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